12.6.06

Antes e Depois: Now you see it...Now you don't...

Muito se tem escrito nos comentários acerca de como o Colectivo quer proibir a publicidade com mulheres bonitas e perfeitas. O Colectivo não quer proibir nada disso, apenas alertar para os padrões de beleza impossíveis de alcançar que esse tipo de publicidade faz com que as pessoas queiram atingir, e a consequente frustração que sentem quando não o conseguem.

Acho problemático que não haja quase publicidade nenhuma que mostre a pessoa que foi fotografada tal e qual como é. Se tiver imperfeições? Paciência, ninguém é perfeit@. Ou como a minha mãe me dizia "As pessoas não são de porcelana". Que ninguém é perfeit@ tod@s sabemos, mas publicidade deste tipo faz com que a maior parte de nós acredite que há quem o possa ser, que até nós propri@s o podemos ser. Não podemos. A não ser que apareçamos numa revista, aí o caso muda (literalmente) de figura...

Porque trabalho na área de Design Visual, porque sei ver quando uma imagem foi retocada, porque também eu sei retocar imagens, posso dizer com toda a certeza que poucas são as fotografias numa revista, seja ela qual for, que não foram retocadas.

Este site alerta para essas questões, mostrando às/aos adolescentes que os padrões de beleza da fotografia de publicidade e moda são impossíveis de atingir. No entanto, embora por vezes custe a admitir, não são só @s adolescentes que precisam de ser alertad@s, isto toca a tod@s. Tod@s a dado momento/s nas nossas vidas, devido aos ideais de beleza perpetuados pelos média, queremos ou já quisemos ter certas características físicas que não podemos ter, porque ninguém pode ter, porque é impossível ter.

Quando era mais nova queixava-me da minha pele, e respondiam-me sempre "ninguém tem a pele perfeita" e respondia sempre com uma revista na mão apontando para uma foto "esta pessoa tem". Vejo pessoas tristes e frustrad@s porque não têm, por exemplo, a pele tão boa como alguém que apareceu numa revista, quando muito provavelmente essa pessoa tem a pele ainda pior.

Conheço pessoas que já apareceram em revistas e cujas fotos foram retocadas. Conheço uma rapariga que aos 11 anos apareceu numa revista para crianças... mudaram-lhe a cor dos olhos de castanho para azul...

Essas imagens só nos dizem que o normal e desejável é ser perfeit@. Gostava, e tenho esperança, que chegue o dia em que a publicidade em vez de nos ensinar desde pequenin@s que devemos ser perfeit@s, nos ensine que ninguém pode ser perfeit@, e que não há mal nenhum nisso. Porque é de facto libertador quando nos apercebemos que não é necessário nem é possível sermos como nas revistas.

Reparem no exemplo seguinte, tirado desse site de que falei:

Antes

Depois

Vale a pena visitar o site e ver a evolução da imagem que foi retocada.

Traduzindo o que está escrito no final dessa página:

"O mundo dos média está a começar a ficar demasiado fixado nas aparências. E está a aumentar o número de truques utilizados para atingir os crescentes e exagerados ideais de beleza. Muit@s model@s fazem operações plásticas e mais ainda são retocad@s para parecer que têm o peito maior, barrigas mais pequenas, ou lábios mais cheios. Esta foto (que mostra Lyyn de 14 anos) é um bom exemplo de como é fácil alterar uma foto de modo a estar de acordo com os ideais de beleza do mundo dos média. Não podemos parar com estas imagens, mas podemos alertar-vos para o facto de que muitas delas são baseadas numa mentira. E por causa disto, não vale a pena tentarem comparar-se com elas."
a

4 comentários:

Anónimo disse...

Acho este post muito pertinente e importante.
Acho verdadeiramente preocupante ouvir crianças de 6, 7, 8, 9 anos... preocuparem-se com calorias, engordar...

Este tipo de valores (ou melhor, de facto acho que falta deles) com que somos bombardeados diariamente tem consequências verdadeiramente graves.

Anónimo disse...

É assustador como as aparências "nos" iludem tanto, nas mais diversas formas. Como procurar atingir algo que não existe na realidade?
Há que desconstruir as imagens fabricadas do que é suposto ser belo, para que se perceba que não passam de fantasias.
Há tanta beleza para a qual deveriamos olhar: os momentos felizes, a amizade, o mar, os sorrisos, a literatura, sei lá, a vida de verdade.
Força meninas com o vosso blogue!

Anónimo disse...

http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/foucault/art08.html

Anónimo disse...

Riot Grrrl, gostei muito deste teu post. Inicia com uma exposição argumentativa em defesa e clarificação de determinadas posições do Colectivo (que convém que fiquem demarcadas, efectivamente), aborda uma temática gritante e acho-o especialmente bem redigido.

Factualmente vivemos no mundo das aparências, do jogo entre visivel-invisivel, de sedução, de chamamento, de exposição, captação e emissão de estímulos - existem padrões continuamente construídos, reproduzidos, destruídos, reciclados, é o que me passa agora pela mente. Mas não obstante, vivemos numa sociedade intensa que irrompe pela nossa vista, que define nas nossas mentes categorias e estereótipos do que é belo, do que é feio, do que é desejável, aconselhável, evitável, por aí além. A título pessoal senti, como muitos/as de nós devemos ter sentido (ou sentimos, ou sentiremos futuramente), frustrações ou constrangimentos com o meu corpo, com a minha aparência, isto em especial na adolescência. Olhando para o meu corpo/rosto ao espelho, comparando-me com imagens que considerava belas (e assim as considerava porque assim estava vocacionado o meu cérebro para as considerar -aprendizagens, entenda-se), sentia-me hedionda por fugir aos padrões estéticos e de beleza feminina. Os caminhos que percorri, os meios nos quais me movimentei, acabaram por ser importantes alicerces numa redefinição dos meus próprios padrões de beleza, de redefinição da minha auto-imagem - trata-se exactamente da questão de que falas, Riot, de ter consciência que a perfeição não existe (aliás, eu ponho em causa a "perfeição em si e per si" porque, afinal, é uma construção, adiante), ou seja, um processo de redescoberta do meu "eu", aceitação/compreensão/estima desse/para com esse “eu”.

O envolvimento com o goticismo e com o surrealismo (e com a Sociologia, enfim) será o principal responsável pelas minhas redefinições dos estereótipos, creio. Seria um tema para discutir à parte? Estico-me, são quase seis da manhã e ao meio-dia tenho que me levantar...

p.s. Um comentário pouco necessário mas que me ocorreu durante a leitura do post: a primeira foto é muito mais atraente do que a segunda. As cores são mais suaves, as formas idem.