12.7.06

O Médico, a Paciente, a Agente e as Algemas

Recebemos um email de uma leitora do blog sugerindo que publicássemos este testemunho:

«Tenho lido o vosso blog. Considero-o bem interessante e com temas muito pertinentes. Muitos destes, considerados por alguns dos comentadores como fúteis, não o são de facto. Como diz o ditado português, são coisas do quotidiano “que não matam mas moem”...

Hoje decidi escrever-vos para vos contar uma situação que vivi a semana passada. Devido a um pequeno problema de saúde tive necessidade de ir ao hospital de S. José. Ao ser chamada ao “Balcão da Mulheres” para apresentar a minha situação, indicaram-me uma mesa onde estava um médico. Comecei a relatar o meu problema, mas reparei que o senhor não me dava muita atenção – pouco olhava para mim, não fazia perguntas e com um ar de enfado ia por vezes anotando, numa letra ilegível, algumas coisas.

A certa altura, a meio do meu relato, o senhor começa a falar animadamente. O tom de entusiasmo nada tinha porém a ver com o que eu lhe dizia. A
conversa era com a agente da polícia, que estava no dito “Balcão de
Mulheres”. Dizia-lhe o senhor coisas do tipo:

- Eu, polícias, só mesmo mulheres polícia. Nunca fiz nada de ilegal, por isso só mesmo mulheres polícia. A senhora agente não me quer pôr umas algemas? Não me importava nada...

Confesso que fiquei estupefacta... depois fez-se luz no meu espírito: estava explicada a falta de atenção do senhor, ele estava muito mais interessado na agente da polícia. Reconheço que uma dor forte num ombro não é particularmente interessante, e a senhora agente até era mais nova e mais elegante que eu, mas a situação era absurda!

Eu pensei: "Ou chamo a atenção ao senhor de que estou aqui a meio do relato do que me incomoda... ou vejo até onde é que isto vai...". Decidi pela segunda opção. A “brincadeira” continuou... Chegou um colega, ele chamou-o e disse-lhe:

- Estou aqui a dizer à senhora agente que polícias, só mesmo mulheres. Já lhe perguntei se me quer pôr as algemas, tu não queres que ela te ponha as algemas também?

Isto tudo em tom suficientemente alto para ser ouvido por toda a gente (bem mais de uma dezena de pessoas) que estavam na altura no balcão das mulheres... Devo dizer que fiquei estupefacta e incomodada com a atitude do dito senhor e a falta de respeito por mim, pela agente da polícia e por todos os que ali estavam.»

Agradecemos o envio deste testemunho, que temos muito gosto em publicar aqui. Esperamos que no futuro seja atendida por médic@s mais profissionais e competentes :)

Infelizmente, esta e outras formas de assédio não são um caso isolado e fazem parte da vida de muitas agentes da polícia em Portugal e no estrangeiro - para saber mais, sugerimos que ouçam esta edição do programa de rádio Women's Hour da BBC, sobre "Sexismo na Polícia".
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1 comentário:

Anónimo disse...

espero que a senhora tenha apresentado reclamação sobre a forma como foi atendida por esse colega. Lembro que o pode fazer tanto no hospital, como na ordem dos médicos