11.8.06

Homens Feministas

Há quem ache que ser feminista é odiar os homens. Há quem ache que o feminismo só traz problemas aos homens. E há quem ache (posição que subscrevo) que os homens são muito prejudicados pelo sexismo, tal como as mulheres, e que portanto também têm muito a ganhar com a crítica ao sexismo e a luta por uma sociedade mais igualitária.

De facto, as regras sociais sobre "o que é um homem" e "o que é que um homem pode/deve/consegue fazer" sujeitam os homens a uma pressão constante para provar que são "homens a sério" e limitam significativamente as suas escolhas, oportunidades e direitos. Além disso, a ideia de que as mulheres têm mais jeito do que os homens para certas coisas (por exemplo, tomar conta de crianças) faz com que estes sejam frequentemente discriminados no acesso a determinadas profissões (por exemplo, educador de infância).
Por outro lado, há homens que são contra as violações dos direitos das mulheres (como a violência doméstica) e que desejam contribuir para a sua erradicação, nomeadamente sensibilizando outros homens para estes problemas - acreditam que para haver mudança é preciso mobilizar não só as mulheres mas também os homens.

É por isso que cada vez há mais homens que se assumem como feministas - tendência que é analisada nesta reportagem de Natalie Hanman, publicada esta semana no jornal inglês Guardian.

Male feminists march on
Natalie Hanman - The Guardian

Over the years, that elusive figure - the male feminist - has often been regarded with suspicion by his contemporaries, male and female alike. In fact, it has sometimes been thought that any man who dared to get involved with the feminist movement was either intrinsically self-hating or just looking for sex.

But pro-feminist men have begun to crop up in the unlikeliest places. From labourers on building sites, to coppers, nightclub bouncers and footballers, male feminists have been asserting their support for women, railing against sexism, challenging domestic violence and encouraging their more laddish peers to change their ways.

Colm Dempsey, for instance, a police officer in Ireland, became so convinced of the need for men to combat the culture of male violence against women that he collected 365 anti-domestic violence posters from around the world, and is currently showing them in Belfast. The exhibition, which highlights some shocking statistics - every 20 seconds a woman is the victim of domestic violence in the UK, two are killed as a result of domestic violence every week - will also tour.

"The best compliment I have yet received is to be referred to as a male feminist," says Dempsey. "It's vital for women to see that there are men committed to women's rights."

While he is challenging the stereotype of sexist police officers, the Considerate Constructor's Scheme is working to transform the sexist image of a whole industry: the building trade. The scheme is a voluntary code of practice that states that those signed up to it must ensure there is no lewd language or behaviour on site. There are more than 3,500 sites adhering to the code - since its launch nine years ago, more than 18,000 have signed up.

Edward Hardy, general manager of the scheme, says: "As part of being a considerate constructor, you shouldn't have chaps hanging off scaffolding and whistling at girls. But it's also [about] inappropriate calendars and so on."

The original pro-feminist men's movement, which emerged in the US, the UK and Australia in the late 60s and early 70s, grew out of the progressive left's frustration with traditional masculinity. In Britain the movement was driven by anarchic publications such as the Men's Anti-sexism Newsletter (Man) and Achilles Heel. (...) But while some criticised pro-feminist men for being, well, not man enough, the irony was that it was exactly the macho stereotype that the movement originally set out to challenge.

"Now," argues Michael Kimmel, a US academic and spokesman for the National Organisation for Men Against Sexism, "groups such as Amnesty and Oxfam - the heirs to the pro-feminist men's groups in the 60s and 70s - are also developing projects around men and masculinity, because we have found that gender equality is not going to be possible without men."

To underline this point, Amnesty International (UK) and Womankind (UK) recently hosted conferences that explored how to involve men in combating sexism and male violence against women. They brought together organisations as diverse as Men Can Stop Rape, an American campaign group co-founded by John Stoltenberg, Andrea Dworkin's widower, and Unison. The focus was on engaging men, not demonising them. As one of the speakers said, male violence against women is not just "a women's issue" - it affects everyone.

This belief inspired Chris Green to launch the UK arm of the international White Ribbon campaign two years ago. This pro-feminist organisation was set up in Canada by men for men who wanted to take more responsibility for reducing male violence against women. "I'm interested in how the phrase 'pro-feminist' is used and I like it to be used quite carefully," says Green. "I go back many years and when men in those days said, 'Oh yes, I'm a feminist too!' you would potentially get run out of town. But that was 20 years ago and attitudes have changed."

Kimmel agrees: "In the 70s and 80s, pro-feminist men were either viewed as hating being men or as just trying to get laid. I don't feel that any longer, I don't feel that kind of resistance."

The most positive aspect of all this is that pro-feminist men's groups are able to reach many people traditional feminism has failed to connect with. For instance, last November 25 - the International Day for the Elimination of Violence Against Women - the White Ribbon campaign handed out some of its anti-violence merchandise. Among the many men who wore white ribbons on the day, or near to it, were Rafael Benitez, the manager of Liverpool FC, Newcastle manager Graeme Souness and a nightclub doorman in Huddersfield who wanted to do something about the street harassment of women he sees each night.

But can a man ever really be a feminist? Some say it is inappropriate for men to call themselves feminists, arguing that feminism is a movement developed by and for women, and that men can never really understand what it is like to be a woman. Furthermore, critics claim that by jumping on the feminism bandwagon, men could eventually dominate the movement.

Organisations such as Oxfam, however, think the risks of involving men are far outweighed by the benefits. Its Gender Equality and Men project, launched in 2002, has incorporated men into work on issues as diverse as reproductive and sexual health, fatherhood and poverty reduction.

Jenny Watson, chair of the Equal Opportunities Commission, isn't surprised. "Things are changing very fast. Increasingly, men see that the lives women are trying to build - balancing work and family - are lives that they want to lead too."

And given that, what man wouldn't want to call himself pro-feminist?
a

13 comentários:

FuckItAll disse...

Nem de propósito, posso sugerir uma visita a

http://womenageatrois.blogspot.com/2006/08/parece-praga.html
e http://womenageatrois.blogspot.com/2006/08/das-mes-e-dos-pais.html

FuckItAll disse...

...vem a propósito de os homens serem tantas vezes os primeiros lesados pelo machismo, de este ser um quadro ideológico que nos afecta a todos.

Anónimo disse...

Apesar de tudo, toh pagando pra ver um homem que seja feminista sem precisar ser emo!

FuckItAll disse...

Eu mostrava-te uns, se tivesse a certeza que eles querem ser mostrados...

Anónimo disse...

Eu queria mesmo era ver um grupo destes em Portugal. Estrangeiros já vi e gostei. Cá só conheço um. Haverá mais? Estive já em dois colóquios sobre masculinidades e 80% da assistência eram mulheres. Será que eles não se questionam? E depois há a desconfiança... O primeiro feminista que conheci queria ensinar às mulheres como ser feministas. Enfim, gostava mas esse vento ainda não soprou neste país. Se não tiver razão, mostrem-me.

FuckItAll disse...

Pois, enquanto grupo não estou a ver, não. Existem só nas tais temáticas associadas (associações gay, ou para defesa dos direitos dos pais, p.ex.). Mas enquanto indivíduos há cada vez mais homens que se associam a questões "anti-machismo". Já é melhor que nada...

Anónimo disse...

Eu, como homem feminista, também declaro que as diferenças entre homens e mulheres não existem.

A Ideologia está sempre certa. A realidade é que é frequentemente incoerente.

Abaixo a realidade, viva a ideologia !

Anónimo disse...

Pois eu sou homem e sou feminista.
E não entendo essa associação entre homosexuais e feminismo: o mundo gay masculino é extremamente misógino, já pra não dizer machista. Basta ouvir o termo que é normalmente usado para referir qualquer mulher: galinhas

João Paulo Telo

Anónimo disse...

Alguém me pode explicar melhor o conceito "feminista"? É que, apesar de defender a igualdade entre sexos (não me agrada a palavra géneros, mas também podemos discutir isso), não me considero feminista...quando muito igualitarista, mas basicamente progressista.

O termo feminista peca pela analogia a machista, que sendo diversos acabam no mesmo saco. E se um machista é um idiota que considera os homens superiores às mulheres, a feminista acaba por analogia por ser tida como alguém que considera as mulheres superiores aos homens (e, de facto, há por Coimbra umas quantas que pensam assim...). Desta forma, não me agrada muito o conceito.

Além disso, no que respeita a igualdade, há para mim dois campos principais: um diz respeito às desigualdades no plano socio-económico e nada tem a ver com o binómio machismo-feminismo, mas sim com aspectos endémicos da sociedade, actualmente capitalista, embora já existissem antes.

Outro diz respeito ao tema central do post, e não tem realmente a ver com desigualdades, pois trata-se dum aspecto em que tanto homens como mulheres são subjugados: os papéis sociais atribuídos a cada sexo. E, acreditem, da mesma forma que os papéis atribuídos às mulheres as desagradam (não ainda a todas, infelizmente), também os atribuídos aos homens os desagradam cada vez mais (embora, uma vez mais infelizmente, ainda a poucos). Não sou nem nunca quis ser um engatatão, mas devia, gosto de cozinhar, mas não devia, não gosto de carros nem futebol, mas devia, gosto do que não devo e não gosto do que devo...isto é igual para homens e mulheres...

Saudações progressistas

Anónimo disse...

Eu explico-lhe, caro Campos. Entendo o Feminismo como um humanismo, que defende a pessoa humana contra uma agressão (neste caso, o machismo). Tudo o que você descreve pode ser considerado feminista. Não aposte nos chavões que ouve (feminismo=machismo) e não tenha medo das plavras (feminismo), porque não é por se dizer feminista que a gente pensa que você usa cuequinhas cor-de-rosa.

Abraço

JPTelo

Anezio Fernandes disse...

Campos, só duas coisinhas simples!

Feminismo não é o análogo oposto ao machismo não! O oposto análogo ao machismo é o femismo! Há pessoas que se dizem femisnistas, mas que na verdade são femistas.

Mas por que então dar esse nome "feminismo" se queremos igualdade? Por que não igualismo?

É justamente porque não há igualdade! A hegemonia do homem, transforma as mulheres em um grupo minoritário. E é preciso dar visibilidade a esse esquema dual de hegemonia de um termo/minoritareidade do outro. A expressão "feminismo" diz "há a desigualdade, e queremos acabar com ela, respeitando as diferenças", a expressão "femismo" quer dizer "há a desigualdade, e queremos inverter, queremos que as mulheres se vinguem da opressão que sofrem, oprimindo".

Mas a expressão "igualitarismo" me parece querer dizer duas coisas: Ou "não existe diferença, só uma diferença ilusória, e eliminar a opressão é eliminar a ilusão de que somos diferentes", ou "existem diferenças, e queremos acabar com ela, queremos que todos sejam iguais" (mas se não existem diferenças, todos são iguais a quê? Iguais aos homens, ou às mulheres? Ou iguais a uma outra coisa...

Lutar contra a desigualdade e a favor do respeito às diferenças é ser feminista!

Souto disse...

Boas,
Só para partilhar o facto de ser mulher e não ser feminista.
Nasci mulher. Adoro ser mulher. Mas não sou a favor do facto de ser mulher. Não preciso disso. Aceito-me tal como sou. E tanto se me dá se me defendem ou se me ofendem.
Ao que me ofende, respondo: Todos temos a hipótese de escolher ser idiotas. É sem dúvida o potencial do livre-arbítrio.
Ao que me defende, respondo: Meu caro, não preciso da tua aprovação nem protecção. Lamento. Epa, sou independente. Se tens a necessidade de me defender, é problema teu. Que chatice, não é?
Sou profundamente a favor da individualidade de cada um. E escolho relacionar-me com os que aceitam a minha individualidade e que não fazem julgamentos acerca da mesma.

Anónimo disse...

Sou homem e apoio o feminismo, no sentido de que quero uma sociedade mais igualitária para homens e mulheres.

Sou hetero e apoio o movimento LGBT, pois quero uma sociedade mais justa para heteros e homos.

Sou branco e apoio a consciência negra, pois acredito que o racismo ainda existe e deve ser combatido.

Sou ateu secular e apoio a liberdade religiosa, pois penso que isso é fundamental para uma sociedade pacífica.

Sou também vegano, pois vejo que os animais não-humanos têm tanto direito à vida e à liberdade quanto nós homens, mulheres, gays, heteros, negros, brancos, ateus e crentes.

Rafael