23.3.07

Correio d@s Leitor@s - A Representação das Mulheres nos Média

No passado mês de Novembro, Ana Prioste, Luana Ferreira e Ludmila Nunes apresentaram no Centro Cultural da Benedita uma conferência sobre a representação das mulheres nos média. Enviaram-nos as imagens que recolheram para apresentar e analisar nessa conferência e também um texto sobre algumas das temáticas que aí foram debatidas. Publicamos agora esse material aqui no blog, agradecendo à Ana, Luana e Ludmila por terem decidido partilhá-lo connosco.













"Não é novidade que a representação da mulher nos média, particularmente na publicidade, é estereotipada. São apresentadas num contexto doméstico e/ou agindo segundo os papéis de género tradicionais, como o de mãe, de esposa e de objecto sexual. O que é novidade é a frequência com que estas imagens são veiculadas e a intensidade do seu conteúdo.
Começando pelas posições, as mulheres são apresentadas contorcidas, em posições subalternas, vulneráveis, sem face e reduzidas a partes corporais. São objectificadas sexual e literalmente, aparecem como passivas, dependentes, como bonecas pouco inteligentes, desumanizadas, normalizadas e, claro….magras. (...)
Representações particularmente fortes e preocupantes são os temas de Medo, Violência, Violência Sexual (jogado através do chamado “Rape Myth Fantasy”- o mito de que as mulheres desejam e gostam de ser violadas, mito que parece cada vez mais estar a transpirar para fora da pornografia, onde até agora teve a sua maior expressão) e Morte.

As consequências da exposição a este tipo de representações ainda não são muito estudadas. Mas há alguns exemplos:
- A actual representação da mulher nos média tem efeito tradicionalizante, promovendo e reforçando os papéis tradicionais do género feminino. Tem também outros efeitos negativos no auto conceito, na percepção das capacidades individuais e na auto-imagem (Ford, Voli, Honeycutt, & Casey, 1998).
- O uso de modelos de tamanho médio na publicidade não só previne os efeitos negativos de modelos muito magras na auto-imagem das mulheres, como também mantém intacta a eficácia publicitária (Dittmar & Howard, 2004).
- Homens expostos a média onde a mulher é representada como objecto sexual aceitam mais facilmente atitudes de violação e de exploração sexual (Lindsey, 1997).

(...) Pela aprendizagem social, socialização e modelagem, percebemos que crescemos completamente imersos nestas representações estereotipadas. São cerca de 5000 mensagens publicitárias que recebemos no dia a dia, modelos permanentes do que é ser mulher e, concordando ou não, eles estão lá. (...)

Surge agora também outra questão: o airbrushing (aperfeiçoamento digital), presente em grande parte das mensagens publicitárias com mulheres, caracterizado por um brilho acetinado. Se antes dizíamos que “os modelos são inatingíveis”, o que diremos agora se o que vemos na publicidade não é, de facto, real, sendo produto da criatividade (ou não) de um humano brincando com um programa de computador? Click, click…agora sem sinais, click click…agora sem celulite, click click….agora com os seios maiores, click, click…e agora?"

Texto escrito e imagens recolhidas por Ana Prioste, Luana Ferreira e Ludmila Nunes
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10 comentários:

Anónimo disse...

Já estou habituada com o poder, influença que tem tudo o que é ligado com a sexualidade para vender qualquer coisa. Não acho uma estratégia má (pelo menos nas aulas de marketing somos ensinados que temos de recorrer a qualquer coisa que poderia fazer o produto mais apelativo), porque a maioria da gente adora o sexo.

Agora acho incómodos certos tipos de sexualidades feitos públicos (aquela foto com o homem a agarrar a cara da mulher) porque acho que ultrapassam certos limites da sexualidade considerada normal.... e se o publico não reage agora seria bastante perturbante ver este tipos de paneis publicitários evoluírem para imagens que lembrassem sadismo, pedofilia, zoofilia, necrofilia, bem, normalmente áreas que é preferível serem mantidas intimas.

A foto da mulher a chorar não é muito saudável. E não compreendo em que contexto foi utilizado. Mas de certeza que a utilização repetida deste tipo de imagem pode tornar-nos habituados, frios, menos humanos.

Conclusão: acho que não influência com nada a auto-estima ou modo de pensar e de agir do público em geral, mas deve ter um impacto forte nas idades ate 15-16 anos.

Anónimo disse...

Pessoalmente, de entre todos os exemplos apresentados, em termos de imagens dispostas neste post, a que mais me choca é, sem dúvida, a primeira. Estou farta de ligar a TV, passar pelos canais de música mais comerciais, e dar de caras com mulheres praticamente nuas, a dançar em torno de homens numa espécie de ritual de adoração qualquer, que numa mão seguram um maço de notas e esfregam a outra no corpo daquelas mulheres. O que mais me choca é o facto de existirem mulheres que se prestam aquilo. Como é possivel não se sentir insultada quando se toma parte em semelhantes projectos?

Se as coisas chegaram ao ponto que chegaram foi porque nós mulheres o fomos permitindo. A verdade é que mentalidade colectiva pode ser alterada. Não é um objectivo impossivel, este de a mulher conquistar um lugarzinho ao sol. De respeito e paridade. Mas enquanto existir quem se preste a este tipo de coisa, nada mudará.

Como não ser olhada como um ser submisso, um objecto, quando deliberadamente se faz vida disso?

Sinceramente irrita-me o argumento de que a "sociedade" trata as mulheres de determinada maneira. Ah e tal, os media manipulam. Manipulam porque as pessoas se deixam manipular. E a maioria das mulheres até ajuda um bucadinho.

Perdoem a exaltação, mas como mulher não compreendo a atitude de grande parte das mulheres. Este conformismo... Pedir respeito não é exigir respeito. Não peçam o que é vosso por direito! Exijam.

linfoma_a-escrota disse...

a televisão italiana é chocante nesse sentido, está toda a gente habituadissima a que o apresentador, nem que seja dum programa minimamente sério tipo prós e contras, tenha uma rapariga de bikini ao lado que não diz duas silabas juntas, a unica maneira de manter um homem a ver o programa como se as mulheres não vissem televisão tb? pk kem manda nu telecomando da casa é o macho? basicamente, ainda estamos a sofrer do patriarcado católico que tomou conta deste mundo e abafou a religião que mais tarde todos designamos depreciativamente como sendo pagã, mas não era mais nada que o culto e contacto directo com a natureza, ou mais exactamente, com a mãe-gaia, uma deusa feminina, na minha teoria pessoal todos fomos mulheres um dia e, como passaros ou peixes, deitavamos ovos e assim procriava-mos, talvez tenha havido uma mutação mamiferica e agora são precisos dois para fazer o trabalho, qual costela de Adão qual kê, mete-me nojo esse contozinhu de fadas cujas bases não são mais nada que um fascismo machista por controlo e poder, um dia seremos todos malta ehehehe
continuem no bom caminho....


WWW.MOTORATASDEMARTE.BLOGSPOT.COM

misscalli disse...

Bastam alguns conhecimentos básicos de psi social e cognitiva para perceber que estas coisas influenciam virtualmente sempre e todos, muito ou pouco, e nunca só "em idades entre os 15 e os 16 anos". A foto da mulher a chorar é de uma anúncio de uma marca de roupa,numa revista e toda a campanha da marca foi feita à volta desse tema.

Concordo com o que disse Petrelli no post anterior, os music videos também a mim me fazem mais impressão do que tudo o resto, com toda a sua temática PIMP...e com tudo o que isso engloba.

Este é um bom artigo sobre os videos "pimp and ho":

http://psicocoisas.blogspot.com/2007/03/subvert-dominant-pimpiarchy.html

Dª ZARZANGA disse...

todos nós sabemos ke há muita mulher com 1 visão muito estranha da realidade e que submete sem problemas a estas lindas figuras dos videoclips,,,,outra coisa incómoda é todo este culto das crianças a figuras como as shakira e as britney spears,,,a propria educaçao das mulheres é altamente machista,daí a este abuso destes estereotipos estar tão implementado...

sapatilha rota disse...

Petrelli, na minha opinião existem mulheres que se sujeitam a esse tipo de trabalhos (em casas de strip tease, em telediscos, etc...) porque é uma maneira simples de ganhar dinheiro. Porque numa cultura sexista as raparigas são afastadas da escola (não pelos pais mas por uma cultura que ainda diz que a maneira mais simples de uma mulher ter uma vida boa é sendo bonita e arranjando um marido rico) e ao verem-se maiores de idade percebem que é muito mais fácil arranjar dinheiro para uns implantes de silicone e assim ganhar a vida a dançar com um varão ou a serem agarradas por rappers em frente às câmeras de filmar. A cultura norte-americana e a portuguesa ainda são muito diferentes mas não estamos assim tão longe.
Embora hajam mulheres que gostam desse papel, que gostam de ser submissas, que gostam de sentir que os homens as desejam muitas fazem-no porque olham à volta e não encontram assim tantas hipóteses.

As mulheres colaboram com os media quando estes as tentam manipular? Não me parece. Basta ir a uma escola do terceiro ciclo para perceber que desde pequenas que as raparigas são manipuladas pelos media. Muitas das raparigas de 12 anos vêm telediscos como os da primeira imagem na MTV, admiram esses artistas. Muitas vêm os combates de luta livre que passam na Sic Radical onde as mulheres são apresentadas em roupas reduzidas e os seus "combates" passam por se roçarem umas nas outras, puxarem cabelos e arrancarem roupas. Elas crescem com estas imagens do sexo feminino, aprendendo que só assim é que os rapazes vão gostar delas. Ainda os rapazes estão a acordar para a vida sexual e já há alguns anos que as raparigas aprendem na televisão, nos filmes e nas revistas femininas as melhores maneiras para os atrairem, o visual certo, as maneiras de beijar, como os conquistar e até o que é que eles gostam na cama. Que toda a sua sexualidade gira à volta dos homens!! E, já agora, que as feministas são umas exageradas que odeiam os homens. Que lutar pela igualdade entre homens e mulheres é lutar por salários iguais pois "é só isso que nos falta, somos iguais em tudo o resto". É difícil fugir a esta realidade quando somos bombardeados por ela desde que nascemos.

Anónimo disse...

Quando eu trabalhava em uma livraria, um dia passou um livro pelas minhas mãos chamado "O Corpo feminino e suas utilidades na mídia", ou algo do tipo. Lembro de te-lo folhado rapidamente e vi uma peça publicitária cujo fotografia era o traseiro de uma mulher e um título "Pneu bom é pneu novo, troque o seu". Fiquei estarrecida e pela primeira vez na minha vida, não quis saber o conteudo restante de um livro.
A verdade é que todo texto escrito no post acima já vem acontecendo ha muitos, muitos anos. Seria praticamente impossível altera-lo.

Assistam este vídeo:

http://chic.ig.com.br/materias/395001-395500/395019/395019_1.xml

Abraços.

Anónimo disse...

A verdade é que parece que todas nós crescemos sujeitas à mesma publicidade, à mesma educaçao sexista e estamos aqui hoje a concluir que somos mais do que isto, n é? Eu vejo os mesmos clips, vejo os mesmos anuncios, sujeito-me às mesmas piadas machistas e tenho uma mãe que tambem tem uma mentalidade de que estamos aqui para tornar a vida dos homens mais agradavel. Não é por isso que opto por por um implante e fazer disso vida pois n? O que quero dizer é que grande parte da culpa também é da mulher que se conforma. Nem toda a gente faz o que faz porque nao tem outra opçao... muitas vezes trata-se de o facto de simplesmente dar mt trabalho ir contra a maré. E com isto nao estou a dizer que os media nao têm influencia, claro que têm. Não estou a dizer que a forma como crescemos rodeadas de pessoas a ensinarem-nos a ser menos que os outros nao pesa no balanço final. Mas nao nos despojemos da nossa quota parte.

Anónimo disse...

curioso, a LINFOMA-A-ESCROTA tão miss nice girl. esperava o poder do psicodrama, mesmo ou especialmente aqui entre as carpideiras.....

sapatilha rota disse...

É certo que a maior parte das mulheres são sujeitas à mesma publicidade e crescem com o mesmo papel ao qual a mulher é sujeita na nossa cultura. E no entanto só algumas (poucas) de nós acordam e percebem que podem ser muito mais que uma feliz dona de casa e lutam para conquistar os seus direitos. Mas a maioria não, porquê? Porque o ser humano é, regra geral, conformista. Não somos incentivados a ter um papel activo na nossa comunidade, a fazer algo contra o que achamos que não está correcto, preferimos ficar em casa em vez de irmos para a rua e passar à acção! Mas este não é um problema das mulheres, é um problema de tod@s!

Claro que as mulheres, como qualquer "minoria" (ou não) vitima de discriminação, têm alguma culpa quando são constantemente prejudicadas pela maioria (ou não) opressora e nada fazem para alterar essa situação. Mas não será com certeza porque esta lhes agrada. Acredito que é porque cresceram num ambiente preconceituoso e conformista, que lhes ensina que a maneira mais fácil de passar pela vida está em compactuar com o sistema e fazer os possíveis para se "safarem" e não para o alterarem. Infelizmente não é um problema exclusivo das mulheres e sei que é muito mais fácil ficar quieto do que remar contra a maré mas não acho que seja justo culpa-las quando estão simplesmente a reproduzir tudo o que aprenderam ao longo da vida.