15.2.08

Quem tem medo de partilhar as tarefas?

O jornal Público de ontem dedica um artigo ao seminário Amar e Trabalhar na Europa que está a decorrer no ISCTE. Pois bem, vejamos então o que se passa nas famílias portuguesas heteronormativas do ponto de relações sociais de género?

Começo a ler:

"Apesar da persistente desigualdade na partilha de tarefas domésticas entre homens e mulheres, a maioria dos europeus não considera que esta situação "seja geradora de particular conflitualidade no casal".

Ah?
Espantoso, confesso!

"Segundo dados do European Social Survey de 2004 (...) Portugal é o país da Europa onde uma maior percentagem dos homens inquiridos (69 por cento) diz nunca ter discussões em casa sobre a divisão da tarefas domésticas. (...) Os portugueses ocupam o último e penúltimo lugares entre os que assumem ser a divisão das tarefas domésticas um foco frequente de desacordos: apenas 11 por cento dos homens inquiridos e 17 por cento das mulheres responderam pela afirmativa."

Pois, pois.
E como explicam que este discurso?

"A tendência no plano dos valores é para uma maior igualdade e para os homens assumirem iguais responsabilidades na família, na casa e no cuidado com os filhos. Mas, na prática, os valores tradicionais das relações de género na família estão profundamente enraizados nas formas de agir de todos os dias de homens e mulheres. Esta incerteza ou ambivalência perante a mudança é particularmente evidente para Portugal, dada a persistência de valores tradicionais".

Ah, pois claro!
Uma coisa é o discurso, outra coisa é a prática.

"
Em Portugal, em mais de meia centena de entrevistas realizadas a casais das regiões de Lisboa, Porto e Leiria, entre 2003 e 2006, os investigadores dizem ter encontrado, quanto a modalidades de partilha do trabalho doméstico, uma "tendência global para uma divisão assimétrica atenuada, com inclinação tradicional". Isto quer dizer que, no geral, os casais portugueses tendem a praticar algum companheirismo doméstico, por oposição ao modelo assimétrico tradicional em que as tarefas domésticas são um exclusivo feminino, embora este pendor funcione ainda como a base inspiradora."

Andamos com falta de inspiração, andamos, lá isso concordo!


Miss Piggy

5 comentários:

ana disse...

As tarefas domésticas são aborrecidas e pouco qualificadas, não interessa ao homem partilhá-las. O facto de a mulher hoje trabalhar, seja por questões de independência ou porque o agregado não pode passar sem o seu contributo, levou à necessidade da divisão de tarefas que, infelizmente, está ainda a dar os primeiros passos. Pior do que a realização das tarefas, é talvez o organizar do quotidiano.Nunca ouvi um homem dizer "não sei o que hei-de fazer hoje para o jantar" nem uma mulher perguntar ao marido "a minha camisa de riscas já está lavada?".É preciso ainda ter equilíbrio e não exigir a um homem que trabalha das 7 às 22 que venha ainda arrumar a cozinha. Mas na generalidade os homens estão, sim, beneficiados.Mesmo que se ocupem regularmente de tarefas como lavar o carro e trocar pneus, o facto é que as tarefas que recaem sobre as mulheres são diárias e desgastantes.E uma mulher com tempo para si, tem melhor disposição e disponibilidade.

Anónimo disse...

Também li este artigo,e também pensei sobre ele.
Uma questão muito importante reside na espectativa das mulheres face aos homens. Parece-me ser este um ponto central. Ainda hoje parece-me que a maior parte das mulheres portuguesas não espera uma partilha efectiva de tarefas.Logo, a conflitualidade reduz-se ou é inexistente. Chato, chato, são aquelas que acham e exigem que não seja assim,essas sim, semeiam conflitos porque acreditam que a casa é um espaço político e é por lá que se trilham os caminhos da igualdade (nomeadamente na educação dos filhos)
ana

Anónimo disse...

Estou casada há 7 anos, sou professora e, por isso, para além do trabalho na escola, trago para casa muito outro trabalho que, se não for feito, me impedirá de dar aulas no dia seguinte. O meu marido trabalha por sua conta e o modelo familiar que trouxe de casa dos pais é tradicional: a mãe que faz tudo em casa e o pai nada e ainda desdenha dos homens que o fazem. Estes 7 anos têm sido uma luta constante e infrutífera, pois não consigo sequer que ele arrume o pijama de manhã ou faça a cama e até, pelo menos, que limpe os pés no tapete da entrada para não me marcar o chão. Estas coisas parvas têm sido motivo de muitas discussões e não consigo fazer que ele entenda que o mau-humor de que me acusa frequentemente (e que eu reconheço embora tenha de esclarecer que é só com ele, pois na escola não é essa a opinião que os alunos e os colegas têm de mi, bem pelo contrário) se deve à ausência dele neste campo... Alguém conhece uma estratégia milagrosa capaz de transformar um irresponsável doméstico não numa fada do lar mas pelo menos em alguém atento? É um apelo desesperado!

Anónimo disse...

Tenho 20 anos e namoro a quase três anos com um rapaz de 26 e descobri recentemente que ele é muito tradicional no que respeita a divisões nas tarefas domésticas. Diz pa eu não tar a espera de o ver a aspirar o chão ou a limpar o pó, que limpar a casa é tarefa para as mulheres.
Acho isto tão antiquado!!!
Estamos no século XXI, as mulheres tabalham tanto como os homens fora de casa, em casa deveria ser igual.
Acho desgostoso um jovem de 26 anos ter o pensamento igual ao meu avô de 75 anos no que toca a divisões de tarefas.

Anónimo disse...

Fácil: é só não nos relacionarmos mais com homens. Namoro, casamento... quem precisa disso quando tão desgastante, humilhante e injusto?