A RTP a propósito da notícia de Cavaco Silva ter enviado hoje a proposta de referendo ao aborto para o Tribunal Constitucional, onde a pergunta proposta é “"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?", resolveu saber como é o embrião às 10 semanas.
A notícia começa com um grande plano de um médico a olhar para a uma ecografia, a dizer “- Aqui estão os olhos do bebé, aqui está o coraçãozinho a bater....” e depois é que entra a voz-off da jornalista.
A RTP sendo um canal de serviço público tem uma responsabilidade acrescida no cuidado como o tratamento de notícias.
Se por um lado, @ tele-espectador/a tem o direito de perceber o que se passa até às 10 semanas de gestação, por outro, não pode ser tratad@ como parv@. A RTP não pode manipular o impacto da notícia. Porque mesmo apesar de, e já no meio da peça, o médico ter explicado a diferença entre embrião e feto, o primeiro impacto da notícia, já ficou na nossa cabeça. Esse impacto foram os segundos iniciais da figura de algo minúsculo num ecrã e a tal voz explicativa do médico a apontar “- Aqui estão os olhos do bebé, aqui está o coraçãozinho a bater.”. Ou seja, este tipo de abordagem foi uma bandeja de ouro a cair directamente no colo daqueles que se manifestam contra a legalização do aborto por considerarem que há vida a partir do momento da concepção. Pior, foi manipular a cabeça dos possíveis indecisos do próximo referendo e que, certamente, recorrem aos meios de comunicação social para se informarem e formarem uma opinião. Pois, mas a função da notícia é mesmo informar. Não desinformar. Não confundir.
1 comentário:
Anónimo disse...
Se calhar preferiam que fosse censurada aquela reportagem. Vocês convivem mal com a democracia...
30/10/06 14:40
Barriguita disse...
A democracia passa por liberdade de informação, não por manipulação de informação. Que foi o caso.
30/10/06 19:25
Anónimo disse...
Vamos ser francos. A verdade é uma coisa muito dúbia. A verdade é uma moda. Agora quer-se fazer moda abortar e essa poderá ser a próxima verdade. Um dia pode haver um volta atrás e depois um volta a frente. A verdade é como os ciclos económicos, oscila. Para ti aquela reportagem foi manipulada, para mim foi séria. O que querias que o médico dissesse? Querias que o médico omitisse o que disse? Não me pareceu uma manipulação tão clara, mas a tua verdade acha que aquilo é manipulação.
É difícil opinar sobre o aborto. Não gosto do aborto, mas reconheço a sua utilidade na presente situação. E porque gosto de pragmatismos, independentemente das acusações de infanticídio, há que liberalizar o aborto. Contudo gostava de deixar criticas à forma como este processo tem sido conduzido, ou seja, a parte masculina tem sido completamente desresponsabilizada, sobretudo por alguns sectores mais feministas e esquizofrénicos. A parte masculina devia ter sido sempre responsabilizada, ouvida e implicada, porque até ao dia de hoje, não conheço caso algum em que não houvesse responsabilidade masculina na questão. Se tu conheces algum caso, diz-me e elucida-me. Eu sou um jovem do sexo masculino e sinto que as mulheres olham para este caso como uma questão apenas sua, mas não o é e é até pena que tirem responsabilidades da parte masculina, que as tem tanto, como a parte feminina. Que pensas disto?
31/10/06 17:14
chip disse...
Anonymous said:
"a parte masculina tem sido completamente desresponsabilizada, sobretudo por alguns sectores mais feministas e esquizofrénicos"
Nao sao os tais sectores "feministas e esquizofrenicos" (o que quer que seja que queres dizer com isto) que desresponsabilizam os homens - a propria legislacao e os tribunais sao os primeiros a desresponsabiliza-los. Nao se ve no banco dos reus ou nas prisoes os parceiros (namorados, maridos, o que seja) das mulheres julgadas. E se vivemos num sistema politico e judicial em que sao as mulheres as perseguidas por aborto, é compreensivel que esta acabe por ser uma discussao sobre mulheres e sobre a necessidade de as poupar de perseguicao judicial em caso de aborto (visto que os seus parceiros nunca sao perseguidos de forma identica).
De qualquer forma, nao é verdade que os homens sejam excluidos dos debates sobre aborto. Alias, muitos dos lideres de associacoes e autores de blogs contra a despenalizacao do aborto sao do sexo masculino. E muitos homens (como é o meu caso, por exemplo) tem-se tambem mobilizado pelo "sim" em organizacoes, na blogosfera, em universidades.
Alem disso, ate agora as grandes decisoes sobre aborto no nosso pais estiveram sempre na mao de homens - foram os varios primeiros-ministros, presidentes da republica, lideres de bancadas parlamentares (e tambem da Igreja Catolica) que "empataram" ou impossibilitaram a mudanca desta lei ao longo das ultimas decadas.
31/10/06 20:01
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