5.2.07

Por Opção da Mulher

Excerto do Público de ontem, página 8:

"As declarações e posições pouco católicas de certos movimentos, personalidades e de alguns padres dão a impressão de quererem entregar à repressão do Estado, do Código Penal, dos tribunais, da polícia, da cadeia, as suas convicções morais - isto é, parece que não confiam na consciência das mulheres, na sua capacidade de discernimento, para percorrerem todos os caminhos necessários até chegarem a uma decisão bem informada, responsável, prudencial, no sentido que a virtude da prudência, virtude da decisão bem informada, tem em Aristóteles e Tomás de Aquino. (...)
Em última análise, a grande suspeita em relação à pergunta do referendo está neste fragmento da frase:"por opção da mulher". E porquê? Porque se julga que as mulheres não são de confiança. No entanto, foi a elas que a natureza confiou a concepção e o desenvolvimento da vida humana, durante nove meses."
Frei Bento Domingues

"Por opção da mulher"
Eis o cerne do debate, o principal ponto de discórdia
Eis o resquício do regime fascista que encapuzou os direitos das mulheres
Eis a última conquista do manto da liberdade

Quem não quer que a opção seja das mulheres, por acaso não serão @s mesm@s que olham de lado a mulher que, passados os 30 anos, não é mãe? Ela que tem um ar tão saudável, um emprego estável e até um companheiro, porque raios não é ela parideira, como impõe o sistema patriarcal? Que egoísta, só pensa nela, em vez de pensar no bem da sociedade, em vez de pensar nas nossas pensões! Podia pelo menos dar vida a uma ou duas almas e doá-las a instituições de caridade, que mais não pretendem senão ajudar @ próxim@!
Não serão @s mesm@s que impedem pessoas que querem ter crianças de as ter? Refiro-me àquel@s que defendem que a procriação medicamente assistida não é compatível com a homossexualidade e que não deve estar ao alcance de mulheres solteiras.

Pois é, lamento, mas eu cá não sou nenhuma incubadora!
Filh@s? Quando eu quiser, quant@s eu quiser e se eu quiser!

Miss Piggy
a

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu acho que esse é mesmo o grande problema. Independentemente da opinião/vontade do homem é a mulher que tem a última palavra. É ela que decide...
Sandra*

misscalli disse...

um óptimo texto do Psiquiatra Pio Abreu:

Blogue dos MPE
Grande Pio!
Nas discussões sobre o próximo referendo, raras vezes tenho ouvido a decisiva palavra: amor. Tenho ouvido, sim, sobretudo pela parte dos adeptos do não, um fundamentalismo irracional cheio de zanga e intolerância, um desprezo punitivo pelos momentos mais dramáticos das mulheres concretas, reais e normais. Enquanto olham para os adeptos do sim (felizmente a maioria) como criminosos, os fundamentalistas do não compensam o seu desamor pelas pessoas existentes com a proclamação do amor por princípios, dogmas, seres em potência, não existentes como realidade concreta nem como objectos passíveis do amor das pessoas.

O que mais se vê aqui é desamor. Significativamente, em nome de uma “verdade científica” proclamada por quem nada sabe de ciência e que não sabe sequer que a ciência é avessa aos dogmas, procura a dúvida e tem de ser tolerante. Os adeptos da nova moral biológica esqueceram-se da espiritualidade, caindo paradoxalmente num materialismo simplório: uma célula ou um conjunto delas chega para definir uma pessoa. Não se questionam mais. Nem se questionam sequer sobre o destino que deram aos biliões de espermatozóides ou às dezenas de óvulos que geraram dentro de si.

Aceito que muitos adeptos do não terão passado por experiências decisivas que marcaram as suas opções. Não duvido do seu amor aos filhos que tiveram, eventualmente em circunstâncias difíceis, ou que desejaram ter. Esses filhos, mesmo em potência, têm toda a dignidade humana porque foram desejados. Não é porém o caso de quem se vê obrigado a fazer contracepção ou a interromper uma possível gravidez.

Como psiquiatra, sei que os abortos, espontâneos ou provocados, fazem parte da vida de quase todas as mulheres. Alguns podem passar sem sofrimento, excluindo o trauma e a perda de liberdade que resulta do aborto clandestino, ou o drama de transportar o segredo no seio de famílias conservadoras e fundamentalistas. Excluindo também a culpabilidade gerada nas campanhas para os referendos. Toda a questão é saber se a criança era desejada ou não, e qual o empenho amoroso dos pais que, por vezes, já tinham um nome para ela. Neste caso, tratava-se de um ser humano, fosse qual fosse o tempo de gestação.

Nem sempre é assim, e muitas gravidezes iniciais nem sequer são percebidas, se não negadas. Existem mesmo gestações destinadas à adopção (embora uma mulher que prossiga uma gravidez a termo possa criar, por vezes desesperadamente, laços com a criança que vai nascer). Mas se não for a mãe biológica, alguém que encontre a criança irá ter compaixão e amor por ela, e será esse o seu verdadeiro nascimento como pessoa. Sem isso, nem sequer sobreviveria.

O que dá o estatuto humano ao novo ser, seja ele um recém-nascido, feto ou ser em potência, é o primeiro acto de amor para com ele. Curiosamente, é essa a grande verdade que o ritual religioso do baptismo nos ensina.


J. L. Pio Abreu
Psiquiatra, Professor da Universidade de Coimbra

(Via Sim no Referendo)

retirado de http://www.medicospelaescolha.pt/blog em 06/01/2007

Carla Luís disse...

Nem mais!!
Querem por fêmeas a parir?? Arranjem coelhas, que até são mais eficazes!
Inacreditável... o estado a que isto chegou!!
Força (& parabéns!!) com o blog & colectivo!!!

Carla Luís disse...

A última moda foi o pedaço da pergunta "por opção da mulher" - e nunca na vida me senti tão ofendida, parece-me que nunca antes tinha visto tanto machisto rdical vir à tona. Ou seja, para o não, TUDO é mais importante que a mulher: até uma coisa de 10 semanas. Mulheres a decidir, isso é que não. (Para já não falar nos bque defendem a revogação da lei de 84!!) Enfim!
"Gerarás os filhos e parirás com dor", vem na Bíblia, e parece que a coisa é mesmo para aplicar (não é isto que justifica que haja tantos problemas "éticos"(?) com a epidural?).
Enfim, não sei que pensar... :s

Anónimo disse...

A ideia de que qualquer daqueles senhores, juízes, médicos, e outros/as, possa ter alguma coisa a dizer sobre o que se passa no meu útero, meu direito inerente a existir, meu corpo através do qual eu sou, possa dar sequer opinião sobre o que eu deveria fazer, é uma tal invasão da minha privacidade que a considero um insulto.

Que um sacerdote aconselhe os seus fiéis, ele existe para isso. Que o Estado assuma poderes sobre o meu ventre, isso é um pesadelo que só me lembra Ceausescu, o presidente da Roménia que obrigava as mulheres a parir, pelo menos 4 crias. Que depois podiam morrer à fome e ao abandono nos seus asilos.

A palavra nova escolhida pela propaganda do não é "liberalização", o que sugere a libertinagem, e esquece as condições que constam da pergunta do referendo - 10 semanas, vontade das mulheres, locais previamente autorizados. Esquece e assusta: Então agora "elas" vão fazer o que lhes apetecer?
Perversas, não se pode juntar a palavra liberdade com a palavra mulheres. (Exerto de um texto do Forum do MIC sobre o direito de decidir, por mim mesma.)