22.5.07

As mulheres no mundo de Tintin

Excerto de um artigo intitulado "Por que é que não há mulheres no mundo de Tintin", publicado no Jornal de Notícias de hoje:

(...) há um pormenor de que muitos nunca se terão apercebido são muito poucas as mulheres na vida de Tintin e, quando as há, surgem sempre reduzidas, em todos os aspectos, a uma condição menor.

Um ano a ver BD à lupa

Foi esta ausência feminina, nunca investigada nas seis teses francesas existentes sobre o herói de Hergé, que serviu de base à primeira tese portuguesa sobre Tintin, agora editada em livro "A invisibilidade do género feminino em Tintin - A conspiração do silêncio". O volume, que já estará disponível nas Feiras do Livro de Lisboa e Porto que arrancam esta semana, envolveu num trabalho estóico a sua autora, Ana Bravo, que esquadrinhou milhares de vinhetas.

Após a análise, a conclusão foi a esperada "As mulheres em Tintin estão conformadas a papéis secundarizantes na acção, com ocupações tradicionais e formatadas em traços de caracteres comuns de uma sensibilidade e fragilidade feminina aliadas à arte de atrair problemas".

Mulher estereotipada

Depois de uma dar perspectiva alargada da evolução da BD, Ana Bravo analisa a relação de Hergé com as mulheres - as de papel e as de carne e osso -, de onde se percebe que "se as mulheres lograram adquirir algum protagonismo no seu círculo profissional, constata-se uma intencionalidade de ordem religiosa, social, cultural, ideológica e de público-alvo na invisibilidade das mulheres no seu universo ficcional, assim como uma inusitada incorporação de género em personagens modeladas de animalidade", concretamente da cadela Milu.


Como curiosidade, regista "a tendência para discriminar salarialmente as colaboradoras em 1977, quando o seu secretário se afastou, vítima de uma trombose, e foi substituído pela mulher, Hergé convencionou-lhe um salário 2/3 inferior ao do marido".


Ana Bravo analisou ao pormenor as dezenas de mulheres que Hergé desenhou (n.º de aparições, vestuário, atitudes, falas), quase sempre meros figurantes, e verifica que em dois álbuns ("Tintin no País dos Sovietes" e "Explorando a Lua"), aventuras de temática política e científica, a mulher não entra de todo. E de todas, só Bianca Castafiore, "o rouxinol milanês", se destaca, surgindo em sete dos 23 álbuns, mas apenas como protagonista em "As Jóias de Castafiore", onde, apesar disso, "mais uma vez, Hergé não foi generoso com o universo feminino", pois mesmo "elevando a personagem ao estatuto de protagonista, não logrou fugir ao estereótipo da feminilidade histérica, incorporada numa Castafiore narcísica, obcecada pela imagem e embriagada pelo poder mágico da música, 'leit-motiv' da sua acção".


As mulheres na BD, ora aqui está um vasto e interessantissimo tema, no qual contudo não me aventurarei por não conhecer suficientemente a BD. Mas deixo o convite às leitoras e aos leitores deste blog para se debruçarem sobre este assunto e nos enviarem as vossas reflexões.

Miss Piggy

18 comentários:

Dª ZARZANGA disse...

Realmente,como autora e coleccionadora desta forma de arte, confirmo a quase ausencia de peersonalidades femininas realistas no mundo da bd, que quase totalmente,é dirigida a um publico masculino.
há execpções obviamente e felizmeente vou conhecendo cada vez mais...

como eexemplo, assim de repente,lembro-me da colecção "A Liga dos Cavalheiros Extraordinários", escrita por Alan Moore, em que a personagem Mina Harker é uma mulher inteligente e impõe respeito a todos os outros personagens, sem necessitar demostrar os seus "poderes"e muito menos sem necessidade de recorrer a seduções fúteis...
No entanto e para minha grande decepção, na adaptação desta bD para cinema eclipsaram toda a personalidade da Mina, transformando-a em mais uma simmples femme-fatalle.....enfim; há imenso para dizer sobre a área da bd,pouco espaço para o fazer.
nas minhas bds, todos os personagens são femininos,e tento explorar a mente das mulheres fugindo aos estereotipos sexuais;tento,já ke infelizmente ainda há pouco espaço de divulgação para a bd nacional...especialmente se não meter sexo;)

Anónimo disse...

como "se não meter sexo"? (quer dizer, isto é casmurrice teórica, tipo, a nossa lingua obriga-nos a uma subjectividade masculina, por isso...) sexo é sempre que há o desdobramento nessa segunda identidade, que nas tradições análogas á purdah, é separada da masculina em todas as actividades expepto naquela que leva á fecundação. quer dizer, o significado da costela e do "conhecer" bíblico inevitavelmente antecedendo um filhote. Depois há o erotismo, que geralmente se desenvolve a partir do sujeito masculino, mas não inevitavelmente. etc...

Anónimo disse...

desafio quem estiver aí... (tentei mas EU fraquejei)a ler em público um texto escrito com arrobas no seu género. (a provocar a igualdade na recepção, assim como uma mulher ouve masculino e lê EU, um homem ouvir feminino e ler "EU"). É difícil, e não o proponho com rancor.

Repolho disse...

Mulheres uni-vos

antidote disse...

ver o comic Blake and Mortimer para uma situacao pior: as poucas mulheres que aparecem ou sao burras ou sao más como as cobras. Male-bonding no seu melhor (pior).

antidote disse...

hmmm.... mina harker. mesmo no livro, quuando os "homens" decidem mante la na ignorancia e eles é que se vao divertir na sua cacada, ela encaixa como uma decisao sabia tomada por quem sabia mais que ela. a sua docilidade e aceitacao sao entao elogiadas pelo professor holandes.

ok, o livro foi escrito por um gajo!

Dª ZARZANGA disse...

mas que confusão, rosa; estava a falar da bd do género erótico,quecas mesmo, temas de historias ambientes gerais;não de um argumento escrito em arrobas,que,concordo é impossivel de ler..:P

Dª ZARZANGA disse...

...seja como for,apesar de nos comics antigos , marvel e franco-belgas, especialmente as ediçoes antigas são muito dirigidas para o publico masculino.Mas tenho encontrado coisas optimas fora de um (gender) específico,,,,,

além disso cada vez + encontro coisas recentes feitas por autoras femininas muito interessantes como a Jill Thompson,Sophia Crumb,Marjane Strapi,sendo esta ultima uma excelente autora iraniana,purdahs é do conhecimento dela mesmo...

Anónimo disse...

prefiro a generosidade vivencial da tua ultima mensagem que toda a denuncia-tipo deste blog. Mijo fora do penico quando comento, quero sempre falar da estrutura quando o assunto é feminismo, nunca dos detalhes, da repetição que forma a identidade

Repolho disse...

ser feminista é o futuro de africa.

Anónimo disse...

"(...) há um pormenor de que muitos nunca se terão apercebido são muito poucas as mulheres na vida de Tintin e quando as há, surgem sempre reduzidas, em todos os aspectos..."

Reduzidas em todos os aspectos...

100% de acordo...nunca se lembraram de meter la uma gaja toda tesuda?

Anónimo disse...

Após a análise, a conclusão foi a esperada :"As mulheres em Tintin estão conformadas a papéis secundarizantes na acção, com ocupações tradicionais e formatadas em traços de caracteres comuns de uma sensibilidade e fragilidade feminina aliadas à arte de atrair problemas"

as mulheres em tintin estão conformadas a papeis secundarizantes:

lavar a roupa,limpar a casa , fazer o jantar e...estar tesuda á espera que o grande garanhão tintin chegue a casa,diga a mitica frase "querida cheguei",va jantar e depois,depois comer,e mandar a bela cagada ,vá mandar a sua pranchada na mulher antes de ir dormir(so depois do leitinho).

Elementar!

Dª ZARZANGA disse...

para já, coisa mais imbecil do que acabei e ler agora ,nestes dois ultimos posts é dificil, a pessoa em questão deve ter uns fusiveis em défice concerteza.

mas adiante, e para arrematar.

o tintin surgiu nos anos 30,numa revista católica,gerida por um padre.seria um milagre haver algo de positivo para o sexo feminino.
lógico,não?
e se alguem ler o tintin em africa, tb vai descobrir atitudes altamente ofensivas ,racismo e falta de respeito com a vida animal.

não gosto.mas tambem não posso voltar os anos trinta para dar uns sopapos ao hergé...nem a toda a mentalidade que existia nos anos trinta.......

Anónimo disse...

Então e as vossas acções de rua e a boa literatura aqui escrita? Têm estado muito sossegadinh@s...Espero mais notícias vossas!!!

Anónimo disse...

Fanan é amigo, Fanan é grande fã de banda desenhada mas Fanan acha que ninguém daqui lê a dita ou então só lê o que quer.
Dentro do universo da banda desenhada podem encontrar milhentas mulheres como personagens principais assim como importantíssimas personagens secundárias e que não são nem de perto femme fatalles, dumb blondes ou damselles in distress, e não, não são uma minoria, são até uma grande maioria.

Mas numa coisa concordo com a zarzanga, as bandas desenhadas mais populares são desenhadas por homens e têm como público alvo uma horda de seres carregados de testosterona cheios de borbulhas, o que leva inevitavelmente a um aumento substancial do busto das personagens femininas.
But then again da mesma forma que aparece uma hawt red head chick with huuuuueg boobs também aparece o seu antagónico sexual com uma montanha de músculos, cabelo louro e sorriso com estrelas portanto não é por aí que se pode pegar.

Enfim algumas grandes mulheres da banda desenhada:
Tank Girl (no need for introductions here)
Jean Grey aka Phoenix (uma das mais importantes personagens da série x-man)
Scarlet Witch (responsável por uma das maiores mudanças no universo marvel)
as mulheres de Witchblade
qualquer das mulheres de Red Star (bd que tanto furor faz nos USA)
and so on.

Pessoalmente sempre vi o papel da mulher de modo igual ao dos homens no que toca à banda desenhada, ass-kicking machine seja à base de porrada, inteligência ou uatever.

related btw
http://zcomics.blogspot.com/

Anónimo disse...

Onde estão vocês?

Daniel Lourenço disse...

No que toca à BD americana, vale sempre a pena espreitar o http://girl-wonder.org/girlsreadcomics/ (que recentemente se tem vindo a ocupar com questões étnicas e de orientação sexual aussi). E nos arquivos do http://occasionalsuperheroine.blogspot.com há uma narração muito interessante de um período da sua vida (envolvendo flashbacks a um pai abusivo, uma ruptura vaginal e a sua empresa decidir violar e matar uma personagem feminina como forma de atrair atenção).

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Jean Grey aka Phoenix (uma das mais importantes personagens da série x-man)

Que é uma mulher que perde o controlo sobre o seu enorme poder, e se converte num avatar de emoção que ameaça destruir o universo inteiro.

Scarlet Witch (responsável por uma das maiores mudanças no universo marvel)

Não é, mais uma vez, uma mulher que perde controlo da situação? Enlouquecendo quanto à sua família, usando o seu poder irresponsavelmente?

as mulheres de Witchblade

Só podes estar a gozar.
*http://www.comicoo.com/Witchblade/Witchblade045/s/Witchblade%20045-00fcs_400x400.JPG
*http://wizarduniverse.com/_images_/000063/COVER-170-WITCHBLADE.jpg

But then again da mesma forma que aparece uma hawt red head chick with huuuuueg boobs também aparece o seu antagónico sexual com uma montanha de músculos, cabelo louro e sorriso com estrelas portanto não é por aí que se pode pegar.

Na medida em que eles não andam de decote, saltos altos, tops, ou saias de um lado para o outro, contorcendo-se em posições ridículas, apesar das actividades in which they engage, podes ter a certeza que é por aí que se pode pegar.

Anónimo disse...

Encontrei um artigo interessante sobre este tema aqui.